Renascença no Bitcoin ou meme desnecessário?
$PEPE, Ordinals, Inscriptions, NFTs no Bitcoin e mais!
Novos recordes de transações não confirmadas na história do Bitcoin? Rede Congestionada? Corretoras tendo que paralisar saques de BTC? $PEPE? Ordinais? NFTs no Bitcoin?
WHAT THE FUNK?
Só porque na última edição falei que o Bitcoin ficou para trás nas novidades de mercado, o movimento de projetos criados diretamente no Bitcoin cresceu exponencialmente nas últimas semanas e, em conjunto, já somam quase USD 800 milhões de capitalização de mercado.
Mas, antes… o que é tudo isso?
Apesar de parecer complexo, vamos tentar simplificar sem perder a essência… no limite, você só precisa de 3 conceitos principais para entender o que alguns classificam como a "renascença bitcoiniana”.
Se isso é um exagero ou não, deixo para você avaliar em breve.
Primeiro conceito: Inscrições (Inscriptions)
Nada mais do que registrar algum tipo de informação no Bitcoin. Quer deixar gravado, para todo o sempre, que a Caverna Cripto é uma das formas mais agradáveis de desperdiçar 8 minutos de leitura toda semana?
No passado, você podia fazer isso usando soluções menos eficientes (OP_RETURN e afins). Com a adoção de novas melhorias no Bitcoin, especialmente Taproot e Segwit, é possível fazer esse registro de uma maneira mais eficiente e, até mesmo, de arquivos maiores (4 mb).
Mas… o que você fez até agora foi só registrar uma informação no Bitcoin de uma maneira descentralizada e pública. Você ainda não consegue transferir ou negociar diretamente a propriedade disso, né? É aqui que entra nosso segundo conceito…
Segundo conceito: Ordinais (Ordinals)
É uma convenção criada para dar identidade a um satoshi. 🤯 Profundo, né? Se colocasse um Ed Sheeran de fundo, dava praticamente pra se apaixonar por essa documentação técnica.
Pausa técnica: satoshi é a menor unidade dentro do Bitcoin. Ou seja, se você dividir 1 bitcoin por 100 milhões, você chega em 1 satoshi (0,00000001 BTC). Para fins de comparação, pensa que o satoshi é igual ao nosso 1 centavo de real, a menor representação física da moeda nacional.
Se você selecionar desde o primeiro bitcoin criado na rede até o último criado há poucos minutos, você consegue ordenar e rastrear os satoshis ao longo da existência do protocolo. Inclusive, existem teses de que quanto mais antigo ou especial o satoshi - por exemplo, se ele for parte do primeiro bloco da rede - ele se torna mais raro e valioso.
Qual a grande sacada de tudo isso? Agora, você consegue identificar um satoshi específico e anexar qualquer tipo de conteúdo a ele.
Ou seja, lembra aquela frase difamatória sobre essa newsletter, que foi registrada usando as Inscrições (Inscriptions)? Agora, você pode conectar ela com algum satoshi, chamar de NFT e negociar livremente, junto com as versões bitcoiners de Bored APE e EtherRocks - que são coleções famosas na rede do Ethereum!
Terceiro conceito: BRC-20
Com os conceitos anteriores, você já consegue registrar informações no Bitcoin e atribuir essas informações a certos satoshis, né? Com isso, você criou uma forma de transferir e negociar propriedade, mas… eles ainda são, digamos, incompletos.
Como você transfere eles entre seus amigos? Como uma carteira cripto sabe identificar que aquele satoshi tem algum tipo de informação associado a ele? Como outros agentes de mercado vão interagir com esses ativos se cada um deles se comporta de uma maneira diferente?
É por isso que padrões emergem e unificam o entendimento sobre algum fenômeno. No caso mais recente do Bitcoin, isso se deve ao já famoso Domo, que idealizou o padrão BRC-20.
Agora sim, o quebra-cabeça ficou completo. Combinando com os conceitos anteriores, podemos dizer que o padrão do BRC-20 seleciona um “grupo de satoshis” que vão representar um certo token, digamos o querido $PEPE.
Por causa dessa ligação entre esse grupo de satoshis e um ativo criado no formato do BRC-20, todos que possuírem os satoshis específicos com as “marcas” ou “identificações” de $PEPE vão poder se dizer orgulhosos donos desse ativo, os trocando livremente de forma fungível - ou seja, da mesma forma que você troca uma nota de 5 reais por outra e acaba na mesmíssima condição financeira.
Agora, o que acontece quando o próprio idealizador do padrão BRC-20 disse que era apenas um “experimento técnico, sem valor algum e provavelmente com formas mais eficientes de se fazer o que ele tinha proposto”?
Obviamente, como era de se esperar do nosso mercado rebelde, inúmeros projetos foram criados e avaliados em quase USD800 milhões em capitalização de mercado.
Dado esse sucesso, a rede do Bitcoin atingiu um número inédito de transações não confirmadas, com mais de 4 milhões de inscrições no ano e mais de 3 milhões de transações com BRC-20, com destaque absoluto para Abril e Maio 🤯.
Beleza… mas, por que essa tração AGORA?
No passado, já tivemos vários alguns ensaios de iniciativas parecidas com a dos Ordinals e BRC-20. As saudosas Colored Coins, Namecoin, Counterparty, entre outras apontadas nessa relatório incrível da Galaxy Digital sobre o tema.
Alguns dizem que antes esse tipo de inovação não era (minimamente) escalável do ponto de vista técnico e/ou com alta complexidade - dependendo de métodos antigos de inserção de dados no Bitcoin e com tamanhos de armazenamento pequenos para os registros. Nessa linha, também afirmam que, com Taproot e Segwit, todo esse processo de registro e transferência ficou mais simples e eficiente.
Outros dizem que as iniciativas passadas não tiveram sucesso porque tentaram levar a inovação para fora da rede original do Bitcoin (sidechains, camadas dois e afins), criando novas premissas de segurança não aceitas amplamente pela comunidade.
Como sempre, é difícil definir exatamente a causa raiz de um evento de mercado que nem mesmo a própria comunidade previu durante o longo período de análise das mudanças do protocolo.
Mas, podemos tentar. Além dessas questões técnicas, o que existe hoje que não tínhamos nas tentativas passadas?
Pra mim, uma variável se sobressaí mais do que as demais: nos últimos anos, o Ethereum ganhou MUITO espaço e relevância no mercado com as diversas narrativas envolvendo seus tokens fungíveis e NFTs. Será que todo esse movimento no Bitcoin possa ser entendido também como uma coordenação social pra dizer “give me a piece of the action too”? Não sei, apenas uma hipótese… mas, não é à toa que o relatório da Galaxy estima que o mercado de Inscrições e Ordinais no Bitcoin pode chegar a USD 4.5 bilhões até 2025.
Será que um dia vamos dizer que as Colored Coins, Namecoin, Counterparty e afins simplesmente estavam à frente de seu tempo?
Quais podem ser outras implicações para o futuro do Bitcoin?
Com as pessoas querendo desesperadamente interagir com essas novas coleções e ativos, a rede do Bitcoin ficou cada vez mais congestionada. Isso levantou críticas na linha de “será que essas transações não estão atrapalhando o verdadeiro propósito do Bitcoin de ser uma rede de pagamentos?”
Oh boy, here we go again.
Primeiro: apesar de soar simplista, se meia dúzia de meme coins fossem quebrar de verdade o Bitcoin, nós não mereceríamos estar aqui, né?
Segundo: vamos combinar de parar de pensar no Bitcoin como uma rede de pagamentos extremamente escalável, a lá VISA (altas transações de baixo valor por segundo), e começar a pensar mais como uma rede de compensação (menos transações por segundo, mas de alto valor), como já levantado em 2018 pelo Nic Carter?
Terceiro: esse congestionamento temporário da rede pode acabar sendo um catalisador para soluções de escalabilidade do Bitcoin (alô alô Lightning Network). Em geral, podem ser nelas que os pequenos e rápidos pagamentos aconteceriam, sendo o Bitcoin usado diretamente mais para transações de alto valor e/ou para compensar e finalizar as milhares de transações que ocorreram nessas soluções de escalabilidade.
Quarto: a cada 4 anos o Bitcoin passa por algo chamado de Halving, em que as recompensas por minerar um bloco são reduzidas pela metade. No início do protocolo, os mineradores recebiam 50 BTC por cada bloco minerado. Hoje, já são 6.25 BTC.
Uma grande questão do mercado é: o que acontece com a segurança da rede quando a recompensa pelo bloco for ainda mais baixa? Em outras palavras, se o incentivo econômico diminui, por qual motivo um minerador continuaria contribuindo para a rede e processando transações?
Hoje, a principal resposta para essa questão é de que o Bitcoin vai ter uma atividade econômica tão rica e dinâmica no futuro que as próprias taxas de transação dos usuários vão sustentar todo o orçamento com segurança da rede.
Mas, a realidade não é tão bonita assim.
Desde Julho de 2021, as taxas de transação no BTC são cerca de 1-2% da recompensa total dos mineradores, que incluem tanto as recompensas dos blocos quanto essas taxas pagas pelos usuários. Ou seja, a cada 100 BTCs que os mineradores recebem como recompensa por manter a rede segura, menos de 2 BTCs são pagos diretamente por usuários da rede e mais de 98 BTCs são pagos na criação do ativo na mineração.
Com o crescimento das Inscrições & Ordinals, esse indicador pulou pra 31%, levando os defensores da nova tendência a declarar que esse tipo de movimento pode ajudar a manter a sustentabilidade econômica do Bitcoin no futuro. 😲
Para adicionar a última pitada na discussão… nas últimas semanas, quase 60% de TODAS as transações no Bitcoin foram relacionadas aos BRC-20s e, em alguns blocos, as taxas pagas pelos usuários foram maiores que as próprias recompensas pela criação do bloco (6.25 BTC).
Dito tudo isso… para variar, vamos incorporar um pouco do papel de advogado do diabo aqui.
Beleza, agora o Bitcoin consegue mais facilmente criar ativos fungíveis e infungíveis nativos ao protocolo e, inclusive, vêm ganhando uma tração relevante nos últimos meses.
Mas, onde estão as aplicações descentralizadas? As exchanges descentralizadas (DEXs), as redes sociais incensuráveis e os outros casos de uso em que a descentralização pode trazer benefícios reais pra humanidade? O Ethereum não virou o que é hoje apenas porque possibilita a criação de ativos.
Alguns dizem que isso ainda está por vir no Bitcoin, talvez até com a tração de um Taro ou Stacks da vida, mas a realidade é que esses ativos ainda tem pouca utilidade dentro do ecossistema.
Dito tudo isso… temos que começar de algum lugar e espero que, cada vez mais, vejamos o Bitcoin como essa camada de compensação agnóstica de valores com propriedades fortes de resistência à censura.
Quer começar por algum lugar?
Apesar de ainda serem projetos e iniciativas pouco testadas, já deixei separado um mapa do setor elaborado pela Galaxy Digital.
Na dúvida, comece pela UniSat - que é um dos principais marketplaces de BRC-20s & Inscriptions & Ordinals.
Disclaimer: não sou remunerado pela UniSat para divulgar eles aqui. Aliás, não sou pago nem pra escrever isso. What am I doing wrong here?